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sexta-feira, 22 de julho de 2011

you amaze me, make me love you



Ela podia sentir a mão dele segurando a sua contra o tórax, um leve afagar constante do dedo indicador e a respiração suave fazendo seu corpo mexer-se na mais calma das ações. Ela não podia sentir o coração do rapaz, mas sabia que ele estava muito próximo dali onde sua mão estava. Aquela ação era o único ponto de calor ao longo daquela rua deserta, talvez de toda a cidade, considerando à hora. A festa em que estava há pouco tempo parecia bem distante afinal de contas. Quase como se não tivesse sendo a mesma noite, só uma lembrança de muitas risadas com os amigos e música alta.

A madrugada fazia o que fazem as madrugadas. O vento gélido do meio-norte fazia os pêlos do braço da moça eriçar-se, mas ela não estava incomodada. Aquilo nunca lhe incomodaria. Ela não podia vê-lo, mas sabia que ele estava aqui, a menos de um palmo do seu corpo. Ambos olhavam para cima, deitados numa calçada, observando o céu.

Já não lembrava a última vez que havia parado para observar o céu. Digo, ainda preservava a mesma mania de observá-lo, mas não do modo como gosta de fazê-lo. E o modo era exatamente daquela maneira: deitada num local qualquer das ruas da cidade, do meio da madrugada, sem hora para voltar pra casa, com os problemas perdidos em algum canto do cérebro que ela não iria procurar agora. Aliás, aquilo ainda estava melhor. Ele estava ali do lado.

Aquela hora da madrugada, as estrelas tinham um brilho mais intenso. Como aproximava-se o fim da noite, suspiravam seu último brilho e davam o melhor de si para aqueles dois únicos observadores pudessem aplaudi-las no final, tal como os artistas mais dedicados, que não medem esforços para agradar o seu - mesmo que restrito - público. Elas estavam conseguindo. Continuem assim, estrelas!

Os ouvidos da moça eram recheados de palavras vindos da boca próxima. Já há sua hora sorria, hora falava palavras sussurradas, hora o repreendia, hora se calava. Era típico dela. Mas em todos os momentos seu coração pulsava fraco e constante. E alegre. Era bom fazer aquilo novamente, ainda mais com ele ali ao lado.

Não que aquela relação tivesse anos de existência, nada disso. Como de praxe, ela sequer lembrava-se de como o conheceu, só lembrava que o adorava e isso já lhe bastava. Não era a primeira vez que eles saiam juntos, mas era a primeira que ficavam sozinhos. Ela podia recordar algumas histórias, e nenhuma delas fora cortada por sua mente. Todas boas lembranças, então. Ela gostava aquilo. Gostava de saber que sempre tinha boas lembranças dele.

Aliás, ela nem sabia o que não lhe agradava nele. Bem... Exceto o vício por bebidas alcoólicas, mas, e daí? Todos têm motivos para fazer o que fazemos e não cabe a ninguém julgar. O que era beber comparada a maioria das coisas que ela já fez? Não era pecado, nem loucura, nem tão grave. Não que ela tenha feito coisas graves.

Poderiam ficar ali até o amanhecer. O silêncio incomodo da falta de assunto nunca lhes abateria pelo visto. Ambos tinham muitas histórias, afinidades, planos, teorias e virtudes. Também tinha discordâncias, defeitos, pecados, inimizades. Mas estes últimos estavam tomados pela escuridão e de lá não sairiam por enquanto. Deixei-vos o que não é bom e aproveitei-vos o momento.

Porém, ela sabia que ele estava com sono. Muito sono. Cansado da caminhada pela madrugada até aquele local. Ela mesma precisava acordar cedo naquele dia. Mas nenhum dos dois movia um músculo para ir.

Não queriam.
Contudo, foram.

Levantou e ajeitou as próprias vestes, não era o mais limpo dos locais aquele onde estavam. Riu para si mesma: hora de avisar a mamãe que o serviço público de limpeza não se estendia até além das ruas, e que a calçada de casa precisava de algum cuidado. Depois, ela voltou seu olhar para o rapaz.

Ela quase havia se esquecido de como ele era bonito,
Após tanto tempo sem vê-lo.
Faziam mais de seis meses não? Se não, quase isso.

A luz fraca e amarelada do poste próximo favorecia as feições do rapaz. Aliás, ela acreditava que tudo o favorecia. Era do tipo de homem que qualquer menina gostaria de ter ao lado, se não pelo seu caráter, pelo seu porte. Garboso, airoso e charmoso. Tinha uma pele linda e uma voz muito agradável. O cabelo - já um tanto sem corte - lhe caía sobre os olhos quando ele baixava a cabeça, o deixando - se é que era possível - mais bonito ainda. Se a menina permite a esta narradora confessar, aquele rapaz não diferia em nada do que ela julgava ser o ideal de beleza. E se o caráter dele também lhe era tão preciso quando o brilho dos olhos dele sorrindo, ela tinha algo preciosa a preservar.

Ele lhe puxou num abraço apertado de despedida e boa noite, cruzando seus braços pela cintura da moça, fazendo-a lançar os seus no pescoço dele. Beijou-lhe o pescoço e ela podia senti cada parte do corpo dele tocando o dela. A respiração dele cortava o ar próximo a sua nuca, quase fazendo seus pêlos eriçarem-se, mas não pelo frio da madrugada. Era tão acolhedor e protetor que ela poderia parar o tempo ali sem haver prejuízos julgáveis.

Neste momento da narrativa, surgi o mais claro dos desejos do leitor. A emoção da espera pelo beijo, não? Bem... Sinto em decepcioná-lo, prezado leitor, mas ele não há beijou. Bem, não como você esperava, pelo menos. E, sendo franca, digo que se ele o tivesse feito, provavelmente não dar-me-ia o trabalho de por isto em palavras, seria só mais uma das histórias que a moça guardava para ela mesma. O que aconteceu segui nas próximas linhas, continue caso lhe interesse.

Então ele virou de costas para ir, um tanto devagar demais, quase dando menção de que ficaria. Ela o abraçou novamente. O cabelo dele roçava-lhe as faces. Ela sorria. Ele também. O céu infinito pairava suas cabeças e muito além do horizonte. Ela agradeceu, ele sorriu dizendo que aquela não seria a única, mas sim a primeira de muitas. Depois ela soltou-lhe e o deixou ir. Ele não queria, mas o sono o havia vencido. Ele deu de ombros como quem se desculpa.

Ela procurou as chaves de casa no bolso traseiro do jeans que usava, pegou-a e caminhou até o portão. Ele já estava bem distante. Depois ela abriu o cadeado e deu os passos necessários para adentrar a apertura feita no portão de ferro. Ele já caminhava pela rua fria e deserta em direção a própria casa. Ela ainda o observou dobrar a esquina, depois adentrou.

E aquela fora uma das melhores noites da sua vida, podia concluir enquanto atravessava a casa escura rumo seu quarto. Não por que havia um romance naquilo tudo, mas pelo valor da confiança que aquilo lhe transmitia. Ela não estava acostumada. Na primeira deixa, qualquer rapaz que conhecia teria lhe beijado. Ele teve todas as oportunidades que quis, e não o fez. E isso a fez amá-lo mais ainda e tornou aquilo tudo mais especial ainda.

Era bom saber que simplesmente estar ao seu lado era o bastante para ele, por que também era o bastante para ela. E aquilo era a base para que todas as crenças da moça fossem confirmadas: Às vezes, tudo que você precisa é de um abraço e carinho que não espera nada em troca. Só assim pode-se ver como os romances não são tudo. Há algo muito mais preciosa que o romance: a amizade.

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Quando Deus.

''Amor é quando Deus mesmo sabendo que eu erro todo dia, sempre me dá uma chance de aprender e fazer diferente.''